Todo mundo vê a crase como um bicho de 7 cabeças. Vamos tentar descomplicar
Veja as explicações sobre a crase, mas nada de decorar. As dicas podem ajudar. Vamos lá?
Se quiser, pode assistir ao nosso vídeo: You Tube
A crase não é o acento.
A crase é a letra a, com o acento grave, aquele que vai pro lado esquerdo
A explicação gramatical parece complicada: é a fusão de uma preposição com um artigo
Simplificando, ela nada mais é do que A + A
O primeiro A (Preposição)com sentido de para
O segundo A (um artigo), aquele que vem antes de um substantivo: a casa, a menina, a secretária etc.
Então, para evitar:
–Fomos a a casa da Amélia
Reduzimos e fica:
-Fomos à casa da Amélia.
Pra facilitar, vamos ver algumas dicas rápidas
1 – quando sempre usamos crase
2 – quando nunca usamos crase
3 – casos especiais
Sempre vamos usar a crase
-Antes de palavras femininas!
-Fui à faculdade.
-Entreguei tudo à secretária.
Veja o caso de uma palavra masculina antecedida por preposição e artigo
-Entreguei tudo ao gerente.
Entreguei ao ⇒ para o
Temos preposição e artigo. Se fosse uma palavra feminina exigiria a crase
Então a dica é:
Se tiver dúvida, substitua a palavra feminina por outra masculina
Outra dica, é substituir a – com o valor de preposição – por para
–Vou a biblioteca ⇒ Vou para a biblioteca = Vou à biblioteca
Se usarmos para a significa que vou ter crase.
-Quando acompanharem verbos que indicam destino (ir, voltar, vir)
-Vou à danceteria.
-Se não estivesse com febre iria à faculdade.
-Ela veio à reunião e trouxe o relatório.
Veja que se o substantivo for masculino notamos a presença de preposição e artigo ⇒ Ela veio ao congresso.
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-Nas locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas
Uma locução é um conjunto de duas ou mais palavras com um único significado.
Geralmente acompanham ideia de tempo, de lugar, de modo
–O filme é à tarde.
-Elas se vestiram às pressas porque estavam atrasadas.
-Vamos só às vezes na casa da Jussara.
Exemplos de locuções:
à medida que, à noite, à tarde, às pressas, às vezes, em frente a, à moda de.
-Em pronomes demonstrativos que começam com “a”
E o que é um pronome demonstrativo?
É aquele que mostra, que indica
Temos
- Aquilo – que é invariável, ou seja, não varia em gênero, não diferencia entre masculino e feminino e em número – singular e plural
- Aquela, aquelas
- Aquele, aqueles
Mas vejam: apesar de que aquele é masculino, neste caso, o que vamos levar em conta é a letra A do princípio
- –Nas férias, vamos àquela praia do Guarujá. ⇒ a aquela – que seria equivalente a para aquela
- Ele não deu importância àquilo que você disse. ⇒ a aquilo – equivalente a para aquilo
-Indicando horas
Usamos a crase antes de horas exatas:
-Termino o plantão às 8:00 da noite.
Aqui não teria a preposição para mas a preposição em
–Termino o plantão em que horário? em as 8 da noite
É claro que ficaria muito feio falar assim. Não é? 🙄
Entretanto, se as horas estiverem acompanhadas de preposições
- após,
- desde,
- para,
- perante,
- com
Não utilizamos a crase
Veja
-Estamos no hospital desde as 8:00 da manhã.
-O gerente marcou a reunião para as 14:00.
-A bilheteria abre após as 16:00.
Nestes casos já temos uma preposição
Claro, então porque colocar outra!?
-A crase também é obrigatória quando houver indicação de à moda de ou ao estilo de
Muito usado na gastronomia
-Adoro bifes à milanesa.
-Vou pedir bife à parmegiana.
-Quero frango à passarinho.
-Faço Pão de queijo à mineira.
Também relacionado ao estilo
-Ela se veste à (moda) Lady Gaga.
2ª Dica – Quando não usar crase
-Antes de palavras masculinas.
Neste caso, não fazemos a fusão entre a preposição e o artigo, mas a união entre eles.
-Iria AO clube se tivesse tempo.
-Antes de numerais cardinais: 1, 2, 3…
-A farmácia fica a 3 quarteirões.
-Também não usamos crase em palavras repetidas
- Ponta a ponta
- Dia a dia
- Cara a cara
-Ela corrigiu o relatório de ponta a ponta.
-Quero que você me diga a verdade cara a cara.
-Antes de pronomes pessoais do caso reto e do caso oblíquo
Os pronomes do caso reto são:
eu você ele/ela |
nós vocês eles/elas |
-Prometo que contaremos tudo a VOCÊ
Veja que 😯
-Contaremos tudo PARA você. Está somente a preposição. Então, crase pra quê?
Os pronomes do caso oblíquo são:
me/mim comigo te, ti contigo |
se si o/a lhe |
-Ele entregou a mim os documentos.
Entregou para mim. Aqui também só temos a preposição, então não precisamos da crase
-E pronomes de tratamento
-Entreguei os documentos a Vossa Senhoria
Mas atenção ➡ antes de senhora, senhorita ou Dona, sim usamos a crase
-Vou pedir um conselho à senhora.
-Antes dos pronomes demonstrativos isso, esse, este, esta, essa
Já vimos que colocamos crase antes dos demonstrativos que começam com a. Neste caso não
-A secretária se referia a isso.
Crase facultativa
Ou seja, você pode escolher se usar ou não
-Antes de nomes próprios femininos.
Quando temos familiaridade com a pessoa, usamos o artigo antes do nome.
-A Sandra é a minha vizinha.
-A Ângela é minha sobrinha. Mas não é obrigatório. Posso dizer Ângela é minha sobrinha.
Então, se usarmos o artigo usaríamos a crase
-Entregue este presente à Ângela ⇒ para a Ângela
Mas digo: –Ângela Merkel tomou medidas econômicas muito decisivas para o país. Porque não tenho familiaridade com essa pessoa. Então não usaria o artigo antes do nome.
Nesse caso, não utilizamos a crase.
-Entregue os documentos a Ângela Merkel.
-Crase facultativa também antes dos pronomes possessivos
Posse indica propriedade, possessão
meu, minha, seu, sua etc. |
-Minha colega fez aniversário ontem. Dei um presente a minha colega.
-A minha colega fez aniversário ontem. Dei um presente à minha colega. ⇒ para a minha colega
Se usar o artigo antes de minha, então devo usar a crase
A crase também será facultativa depois da preposição até
- Caminhamos até a farmácia ou
- Caminhamos até à farmácia.
Agora, cuidado com os nomes próprios de lugares.
Uma regra geral, mas com muitas exceções é o caso dos países, cidades e bairros.
Ensinamos aos alunos estrangeiros que antes de país colocamos o artigo
-A Argentina faz fronteira com o Brasil.
Entretanto, no caso de cidades
-São Paulo e Minas Gerais são produtores de café e de leite.
Então
Vou voltar à Argentina na semana que vem ⇒ para a Argentina
Mas
-Vou viajar a São Paulo no final de semana. ⇒ para
O problema são as exceções. Podemos decorar todas?
Não. Isso é impossível!
Então devemos escutar músicas, assistir a filmes e séries e falar muito com brasileiros para que nosso ouvido se familiarize.
O Equador, a Colômbia, a Suécia, a Itália
Mas Portugal sem artigo. Israel e outros países também sem artigo.
E por incrível que pareça
Há muitas exceções justamente de cidades brasileiras
- O Rio de Janeiro
- O Ceará
- O Rio grande do Sul
Se forem masculinas, então eu usarei AO
-Vou ao Ceará
-Fui ao Rio Grande do Sul
Se a cidade for feminina, então teremos que usar a crase
A Bahia
A Paraíba
-Nas férias de verão, vamos à Bahia.
-Crase facultativa depois da preposição até
-Vieram até a faculdade para fazer a inscrição.
Para terminar
A crase muitas vezes nos ajuda a evitar ambiguidades. Ou seja, a esclarecer a comunicação
Sem crase, significa que ele fechou a porta com violência.
Com crase, significa que ele deu golpes na porta para avisar que chegou. Talvez a campainha não funcionasse.
–O garoto escreveu a mão. Sem crase, ele fez um desenho na sua própria mão.
–O garoto escreveu à mão. Com crase, significa que ele usou a mão como instrumento.
Resumindo o mais importante
Vamos usar a crase sempre
- Antes de palavras femininas que pedem preposição
- Sempre antes de horas
- Sempre antes de à moda de (Frango à passarinho)
- Locuções às vezes, à noite, às pressas
Nunca antes de
- Palavras masculinas
- De pronomes – você, ele, ela etc.
- Palavras repetidas – cara a cara
E a crase será facultativa.
- antes de possessivos
- nomes próprios (quando haja familiaridade)
- depois da preposição até. Fomos até a/à esquina.
Neste casos, se lembrar de colocar ou não estará correto.
Dúvidas ou sugestões?
foneticando.portugues@gmail.com